Os jornais dos últimos dias têm apresentado basicamente dois tipos de notícias internacionais: a tragédia no Japão com suas repercussões e a "intervenção" das forças de coalização (vide OTAN) avalizadas pela ONU com a finalidade de "pacificação" da Líbia. Para nós que estamos aqui, longe dos acontecimentos, tudo parece-nos como uma novela da Globo.
Especificamente no caso da Líbia, a tendenciosidade das informações é patente, revelando um ódio deslavado ante o líder "ditador" Muhamar Kadafi (escolhi esta versão do nome dele, uma vez que sua tradução para outras línguas é praticamente impossível) por parte da mídia ocidental. Nada ou pouco tenho "a favor", muito menos "contra" o líder líbio, entretanto, não consigo entender o posicionamento da ONU frente à questão. Neste sentido, gostaria de perguntar:
Por que a ONU não está intervindo nos demais países que estão passando por problemas assemelhados?
Que tipo de manifestantes possui armamento pesado como fuzis e lança-rojões?
Como os tais "manifestantes", ou atualmente, "rebeldes" conseguiram armamento para enfrentar o exército líbio?
Somente os "rebeldes" são "civis" e estão sendo protegidos pela coalizão da ONU?
O restante do povo líbio - a favor do "ditador" Kadafi - é constituído somente por soldados que podem (ou devem, conforme os EUA) ser mortos como baratas?
Que justiça é esta, imposta pelos aliados, que bombardeia um país que não cometeu nenhum ato de hostilidade contra estes?
Como pessoas "de bem" podem ordenar o bombardeio de um país sob a alegação de usar tal recurso como "instrumentos de paz e de democracia"?
Quem decide o que é bom para o povo líbio?
São tantos os questionamentos a respeito do assunto que causa nojo a postura de líderes como o presidente dos EUA, quando de sua visita ao Brasil, ordenando sorrateiramente o ataque, ou seja ordenando o ASSASSINATO de pessoas que não cometeram nenhum mal contra ele ou contra seu país. Esta é a democracia que ele deseja "introduzir" ao povo líbio?
Para entender um pouco a situação, vou apresentar alguns aspectos que passam ao largo da grande mídia.
Quem é Muhamar Kadafi?
Em 1969 Kadafi liderou um golpe militar que derrubou a monarquia então existente na Líbia e que era apoiada pelos países ocidentais (EUA e Itália, principalmente). Esta situação gerou uma inquientação dos mesmos...
Em 1977, Kadafi tornou-se secretário-geral do Congresso do Povo - uma espécie de congresso como o brasileiro - e presidente da Líbia
Enquanto esteve no poder, Kadafi procurou distribuir melhor a renda auferida com os ganhos do petróleo - um dos motivos da intevenção da OTAN - não construindo palácios de ouro, não comprando aviões, iates, nem Ferraris, ao contrário dos demais líderes árabes apoiados pelos governos ocidentais que parecem deliciar-se com este tipo de ostentação.
Para ilustrar, é interessante colocar alguns indicadores da Líbia a fim de que se possa fazer um juízo de valores:
- IDH (2007): 0,847 (o do Brasil é 0,813) - Em 1970, o IDH da Líbia era 0,541 e o do Brasil, 0,551.
- PIB per capita: US$ 15.401 (o do Brasil é US$ 5.405)
- Mortalidade Infantil (a cada mil): 18,5 (Brasil: 20,6)
Kadafi escreveu um tal de "Livro verde", onde afirma que os trabalhadores devem ser associados e não assalariados. Ainda mais, se atreveu a colocar que a terra deve ser de quem nela trabalha e que o poder deve ser exercido através de comitês e conselhos populares...
Não posso tecer grandes comentários sobre a atual situação política da Líbia, uma vez que as notícias que dispomos são emitidas pela imprensa ocidental e eu não sei ler em árabe... O que posso dizer é que há muito os EUA não aceita o regime de Kadafi. Por quê? Simples: porque trata-se de um regime "socialista", que conta com o apoio de países como Cuba e Venezuela...
Bem, espero que, a partir disto, eu possa ter contribuído para revelar uma outra visão do tema para discutir o assunto. Afinal, mesmo parecendo uma novela global, trata-se de um ataque real a seres humanos. São dezenas, centenas de pessoas mais uma vez dilaceradas por bombas "pacificadoras"...
Em tempo:
1) A Líbia só se tornou independente da Itália em 1951.
2) Nome oficial: Grande República SOCIALISTA POPULAR Árabe da Líbia.