quinta-feira, 24 de março de 2011

Líbia: a bola da vez

Os jornais dos últimos dias têm apresentado basicamente dois tipos de notícias internacionais: a tragédia no Japão com suas repercussões e a "intervenção" das forças de coalização (vide OTAN) avalizadas pela ONU com a finalidade de "pacificação" da Líbia.  Para nós que estamos aqui, longe dos acontecimentos, tudo parece-nos como uma novela da Globo.

Especificamente no caso da Líbia, a tendenciosidade das informações é patente, revelando um ódio deslavado ante o líder "ditador" Muhamar Kadafi (escolhi esta versão do nome dele, uma vez que sua tradução para outras línguas é praticamente impossível) por parte da mídia ocidental.  Nada ou pouco tenho "a favor", muito menos "contra" o líder líbio, entretanto, não consigo entender o posicionamento da ONU frente à questão.  Neste sentido, gostaria de perguntar:

Por que a ONU não está intervindo nos demais países que estão passando por problemas assemelhados?

Que tipo de manifestantes possui armamento pesado como fuzis e lança-rojões?

Como os tais "manifestantes", ou atualmente, "rebeldes" conseguiram armamento para enfrentar o exército líbio?

Somente os "rebeldes" são "civis" e estão sendo protegidos pela coalizão da ONU?

O restante do povo líbio - a favor do "ditador" Kadafi - é constituído somente por soldados que podem (ou devem, conforme os EUA) ser mortos como baratas?

Que justiça é esta, imposta pelos aliados, que bombardeia um país que não cometeu nenhum ato de hostilidade contra estes?

Como pessoas "de bem" podem ordenar o bombardeio de um país sob a alegação de usar tal recurso como "instrumentos de paz e de democracia"?

Quem decide o que é bom para o povo líbio?

São tantos os questionamentos a respeito do assunto que causa nojo a postura de líderes como o presidente dos EUA, quando de sua visita ao Brasil, ordenando sorrateiramente o ataque, ou seja ordenando o ASSASSINATO de pessoas que não cometeram nenhum mal contra ele ou contra seu país.  Esta é a democracia que ele deseja "introduzir" ao povo líbio?

Para entender um pouco a situação, vou apresentar alguns aspectos que passam ao largo da grande mídia.

Quem é Muhamar Kadafi? 

Em 1969 Kadafi liderou um golpe militar que derrubou a monarquia então existente na Líbia e que era apoiada pelos países ocidentais (EUA e Itália, principalmente).  Esta situação gerou uma inquientação dos mesmos...

 Em 1977, Kadafi tornou-se secretário-geral do Congresso do Povo - uma espécie de congresso como o brasileiro - e presidente da Líbia

Enquanto esteve no poder, Kadafi procurou distribuir melhor a renda auferida com os ganhos do petróleo - um dos motivos da intevenção da OTAN - não construindo palácios de ouro, não comprando aviões, iates, nem Ferraris, ao contrário dos demais líderes árabes apoiados pelos governos ocidentais que parecem deliciar-se com este tipo de ostentação.

Para ilustrar, é interessante colocar alguns indicadores da Líbia a fim de que se possa fazer um juízo de valores:

- IDH (2007): 0,847 (o do Brasil é 0,813) - Em 1970, o IDH da Líbia era 0,541 e o do Brasil, 0,551.

- PIB per capita: US$ 15.401 (o do Brasil é US$ 5.405)

- Mortalidade Infantil (a cada mil): 18,5 (Brasil: 20,6)

Kadafi escreveu um tal de "Livro verde", onde afirma que os trabalhadores devem ser associados e não assalariados.  Ainda mais, se atreveu a colocar que a terra deve ser de quem nela trabalha e que o poder deve ser exercido através de comitês e conselhos populares...

Não posso tecer grandes comentários sobre a atual situação política da Líbia, uma vez que as notícias que dispomos são emitidas pela imprensa ocidental e eu não sei ler em árabe...  O que posso dizer é que há muito os EUA não aceita o regime de Kadafi.  Por quê?  Simples: porque trata-se de um regime "socialista", que conta com o apoio de países como Cuba e Venezuela...

Bem, espero que, a partir disto, eu possa ter contribuído para revelar uma outra visão do tema para discutir o assunto.  Afinal, mesmo parecendo uma novela global, trata-se de um ataque real a seres humanos.  São dezenas, centenas de pessoas mais uma vez dilaceradas por bombas "pacificadoras"...

Em tempo:

1) A Líbia só se tornou independente da Itália em 1951.

2) Nome oficial: Grande República SOCIALISTA POPULAR Árabe da Líbia.



7 comentários:

  1. É Fitz, o fato de não ser uma nação não-alinhada com os países seguidores do Consenso de Washington, ou seja os "alinhados", já serve de justificativa para as forças de ajuda "humanitária" intervirem em qualquer país que seja.
    Ante-ontem Chile, ontem Iraque, hoje Líbia e amanhã, Venezuela? Equador? Irã? Coreia do Norte?
    Abraço e parabéns pelo blog!
    Leonardo F. Lemes

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  2. PARABÉNS PELO ESPAÇO E ESTAREMOS JUNTOS PARA DIVULGAR MAIS ESTA FERRAMENTA DE DIALOGO ENTRE OS APAIXONADOS POR GEOGRAFIA, ABRAÇOS ALEX.

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  3. Parabéns pelo blog. Mais um espaço para a Geografia.Bjs
    Carla Viviane

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  4. Gostei do blog.
    achei um artigo interessante no site el pais.
    http://www.elpais.com/articulo/internacional/buena/imagen/Brasil/mayor/poder/real/mundo/elpepuintlat/20110323elpepuint_19/Tes
    Sobre a imagem do Brasil no mundo e o poder de influência.
    Achei importante essa comparação entre o Brasil e a Líbia, temos índices parecidos com os deles. O PIB percapita deles é maior que o nosso (3x1), mas isso não reflete em qualidade de vida da população, já que o IDH por pouco supera a nossa.

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  5. Pois é, mais uma vez estamos vendo um país, importante produtor de petróleo, sendo alvo de ataques militares, com justificativas diversas, mas sempre movimentando a "indústria da guerra" e também sabemos que depois sempre vem a reconstrução do país atacado que geralmente é financiada pelo próprio EUA e lógico que a reconstrução não é de graça. Então podemos pensar: que barbada ganhar dinheiro, "eu vou lá e estrago e depois eu mesmo vendo o consero".

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  6. Muito bom!!! Parabéns colegas... este é o espaço que temos para "desvelar" muitas coisas que chegam prontas aos nossos alunos pela mídia hegemônica. Temos que disputar linha a linha, palavra a palavra... QUEM SABE FAZ A HORA N ESPERA ACONTECER!!!! Abraços
    Vanessa Domingues - Professora de História e Assessora Pedagógica em Tecnologias na Educação

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  7. É isso aí, pessoal!

    Fico contente com a receptividade. Vamos debater este e outros assuntos...

    Seja como for, cada vez que abro o jornal fico mais aterrorizado com a postura ditatorial dos EUA. Hoje (31/03) por exemplo, o nobre presidente norte-americano autorizou operações secretas da CIA para derrubar o "ditador" da Líbia. Mais adiante, ele e a secretária de Estado Hillary Clinton, em um ímpeto de arrogância, acenam com a possibilidade de armar os "rebeldes" - "leais" aos seus interesses...

    Triste mundo!

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