sexta-feira, 1 de abril de 2011

Educação não é prioridade

Espaço Regional

No final do ano passado, nossos brilhantes representantes na Assembleia Legislativa aprovaram (36 x 11) a elevação em 73% de seus salários de míseros R$ 11.564,76 para R$ 20.042,34 a partir de 01/02/2011.  Este valor é equivalente a 75% do salário dos seus colegas Deputados Federais que já tinham aprovado seu reajuste para R$ 26.723,13.  Claro que sobre estes ridículos valores incidem outras mordomias (o Tiririca, por  exemplo, deve precisar de alguém para ler e escrever textos para ele), mas eles merecem, não é verdade?  Aliás, é bom lembrar que nosso ilustríssimo conterrâneo, deputado Marco Maia, em sua primeira brilhante iniciativa, acenou com uma medida para conceder reajuste automático do salário dos deputados - para evitar desgastes junto à população - no sentido de que seus salários sempre estejam equiparados aos dos ministros do STF, a mais alta remuneração do funcionalismo público.  O pior que este digníssimo representante do povo DIZ SER DO PT - Partido dos Trabalhadores...  E eu ainda insisto em ser (estar?) petista...

Bem, o foco deste comentário, entretanto, diz respeito às discussões entre o magistério estadual, via CPERS e o Palácio Piratini.  Repetindo as diretrizes dos governos anteriores - Rigotto e Yeda - o governo Tarso afirma não ter condições de pagar os valores determinados por lei assinada por ele próprio, como ministro da justiça (lei 11.738 de 16/07/2008).  Para que se tenha uma ideia, hoje o piso representa incríveis R$ 1.187,97 para uma jornada de 40 horas semanais - sem as mordomias dos deputados - e nosso estado, tido como "rico" e um dos mais desenvolvidos do país, aparentemente parece não ter condições de bancá-lo.  Aliás, de acordo com o sindicato dos professores e servidores do estado do Ceará - APEOC - em 2009, o RS posicionava-se entre os piores pagadores em todo o Brasil, ocupando um honroso (ou horroroso) 22º lugar entre 26 unidades da federação (na lista do sindicato faltou o estado do Mato Grosso).

Existem algumas perguntas que não querem calar: 

Em sabendo das dificuldades do estado, por que tantas pessoas se candidatam para ser governador? 
Por que, em suas campanhas, os candidatos prometem salários que não poderão ser pagos?  
Por que o governador concedeu aumento de 120% para os Coordenadores de Educação(CCs) e para os demais professores um reajuste de 8,5%?  
Por que o governo estadual não luta e manifesta-se publicamente contra os aumentos concedidos aos deputados estaduais e aos magistrados?  
Será que somente as classes menos favorecidas devem sempre "apertar o cinto"? 
Como professor em um curso de Licenciatura, o que devo dizer para meus alunos, futuros profissionais educadores?
E os atuais professores no ensino médio, como devem proceder com relação a seus alunos quanto a uma possível escolha profissional em termos de licenciaturas? 

Não é de se estranhar a contínua redução de ingressantes em cursos de licenciatura, o que tem levado à extinção de diversos cursos nas Instituições de Ensino Superior.  É lamentável assistir a reles importância dada pela sociedade à educação.  Pior ainda, é constatar a leitura populista dos governantes perante o assunto.  Será que é tão difícil assim?  Será que nunca iremos acabar com este tipo de desigualdade?  Um nobre deputado como o Tiririca ou o Danrley etc., recebe só de salário - sem contar com as demais mordomias - cerca de VINTE vezes o salário que o governo do RS diz não poder pagar.  Neste sentido, insisto: a questão salarial é fundamental para minimizar os problemas educacionais do país.


A título de ilustração, para apresentar as desigualdades em nosso país, conforme visto acima, posso citar o índice GINI que mede a desigualdade de renda.  Para o Brasil, em 2006, este índice era de 56,7...  BRAVO!  Ficamos a frente do Paraguai, Haiti e outros 8 países deste porte.  Entretanto, ficamos atrás dos demais116 listados...  Este é o resultado dos salários dos magistrados, deputados etc. frente aos demais trabalhadores.

Sabe-se que o governador está defendendo um teto de R$ 17 mil para todos no RS.  É um bom começo, mas o problema do magistério parece passar ao largo, uma vez que o governo acena para este salário mínimo de pouco mais de mil reais (17 vezes menos) somente para 2012.  E, depois?  Mais triste ainda, é que o magistério deve dar-se por satisfeito com tamanho esforço.

Bem, espero que possa ter contribuído para iniciar uma discussão sobre o assunto, uma vez que, apesar dos pesares, permaneço acreditando nos propósitos petistas - ao menos aqueles inciais, da época da fundação do partido...

Um comentário:

  1. Pois é Fitz, o que dizer? Brilhante comentário. Reflete de uma maneira cristalina a nossa realidade, como educadores do RS e do Brasil. E tem gente que ainda critica os professores quando entram em greve...
    Abraços!
    Leonardo Lemes

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